É até um pouco óbvio demais, afirmar que o que um homem deseja em uma mulher é aquilo que apenas ela, e mais ninguém pode lhe oferecer.
Atualmente, no entanto, a simples ideia de que um homem aspire a uma mulher como um puro objeto de seu desejo causa repugnância para muitas mentes, pois a mulher não pode mais ser reduzida a um mero objeto do desejo masculino. Se antes mesmo da revolução feminina, já não se podia fazer qualquer tipo de generalização com relação ao enigma do universo feminino, o que já era uma confusão total, virou agora, de vez, totalmente de cabeça para baixo.
Mas como sou um pouco abusado, acho que ainda é possível arriscar alguma opinião: O fato de um homem conceber e desejar uma mulher como um mero objeto erótico não representa de forma alguma a decadência das relações conjugais (e, portanto, também sexuais) entre homem e mulher. Muito pelo contrário, é isso que abre as portas para a construção de qualquer relação amorosa tal como a concebemos em nosso modelo padrão de relacionamento matrimonial e monogâmico (o que vale igualmente para qualquer namoro ou relacionamento sério deste tipo).
Se o elemento "objeto" for excluído deste tipo de relacionamento, na melhor das hipóteses, teremos uma bela de uma amizade, que segundo Freud, nada mais simboliza do que uma relação também de tipo sexual, mas com um potente grau de inibição em seu alvo final.
Por este motivo, se voce é uma mulher "casada" e o seu marido é capaz de te ver como um objeto sexual, agradeça, por que no caso contrário sim, voce deverá enfrentar sérios problemas...
Pode ser que outra questão não menos problemática se torne manifesta quando não se é mais nada do que um objeto sexual e isso, eu tendo a concordar que reflete apenas o empobrecimento do espírito humano. Mas condenar o homem que se sente atraído por uma mulher predominantemente em função de seus atributos físicos (na linguagem popular, basicamente porque ela possui "peitos" e "bunda" interessantes) é coisa de quem não entende patavinas de relações eróticas entre homem e mulher (geralmente, me parece mais que este, ou é um indicador indireto de histeria, ou é o pensamento dominante nas mulheres que não são capazes de despertar nenhum interesse nos homens - mesmo em detrimento de suas características físicas, emocionais ou intelectuais).
Talvez, se invertermos o racíocinio inicial, possamos deixar mais claro o drama que se apresenta na situação que estou tentando descrever: do ponto de vista erótico, uma das piores experiências pelas quais uma mulher pode passar não tende a ser o fato de ela ser reduzida a um objeto sexual para o homem; me parece, que neste sentido, o horror total se instala justamente quando ela não é mais considerada um objeto sexual para ninguém. É aí que a dor da paixão revela a sua mais desagradável morada!
Talvez, se invertermos o racíocinio inicial, possamos deixar mais claro o drama que se apresenta na situação que estou tentando descrever: do ponto de vista erótico, uma das piores experiências pelas quais uma mulher pode passar não tende a ser o fato de ela ser reduzida a um objeto sexual para o homem; me parece, que neste sentido, o horror total se instala justamente quando ela não é mais considerada um objeto sexual para ninguém. É aí que a dor da paixão revela a sua mais desagradável morada!
Em síntese, o fato é que, no plano do erótico (sexual), prevalece como traço psíquico masculino distintivo o desejo de desejar; e como traço psíquico feminino o desejo de ser desejada. Logo, eu sou mesmo um desses que considera o desacordo entre os caracteres psicológicos masculinos e femininos como estrutural. Não existe possibilidade de um acordo pleno, integral e duradouro entre os gêneros; isto é, o abismo sempre prevalece e o desentedimento é a norma! E é por isso que mulheres fisicamente bem dotadas frequentemente deixam os homens embaraçados; sempre haverá espaço para desejá-las mais. Enquanto, no caso das mulheres, a recíproca não é verdadeira, pois em primeiro lugar, importa mais para elas, "ser desejada(s) por aquele(s) que ela(s) deseja(m)", e todo o restante dos homens ficam então para segundo plano.
Tudo isto significa que, no caso dos homens heterosexuais manifestos, ser capaz de se sentir atraído pelos dotes específicos do corpo de uma mulher é a premissa básica da relação erógena. Por este motivo então, penso eu, que as mulheres na realidade teriam muito mais motivos para se indignarem quando é este o fenômeno que está ausente: o desejo erótico do homem que faz da mulher seu objeto sexual; Em outras palavras: quando nenhum homem mais puder eleger uma mulher como o seu objeto sexual preferencial, a amargura feminina será quase fatal e a insatisfação sexual tanto do homem quanto da mulher, se tornará geral.
Valeu Fê! Na verdade, o público alvo deste texto é bem específico: ele se dirige basicamente para as mulheres que viajam e se iludem demais com a psicologia masculina. Para maioria dos homens, eu concordo que ler isto é como chover no molhado! Não acrescenta nada ou acrescenta muito pouco...
ResponderExcluirObrigado pelo estímulo e pela força ao longo de todos estes anos!
Interessante a sua análise, Felipinho. Mas como mulher e alvo de objetificação gostaria de acrescentar algumas coisas.
ResponderExcluirFoquemos um pouco melhor na parte do empobrecimento do espírito humano. Condenar os desejos ou ímpetos sexuais, não só do homem quanto da mulher, é deveras contraditório uma vez que tal coisa nos é completamente natural/inerente. Mas acredito que a problemática que envolve esse assunto é a objetificação em si com o significado mais literal da palavra: reduzir a pessoa alvo de desejo ao simples sinônimo de 'coisa'. Acredito que o que mais nos incomoda, dessa maneira, é a forma como se conduz esse desejo. Essa objetificação traz consigo muitas vezes condutas onde se ausenta o respeito - seja pelos nossos corpos ou até mesmo sentimentos.
Ser desejada por alguém é algo que alimenta o ego de toda mulher, indiscutível. Porém, o conflito ocorre quando isso nos transforma em algo unicamente "consumível", numa situação em que tal desejo quando consumado (ou ainda que nem venha a ser consumado) nos coloque em posição de descartáveis, uma vez que (e aqui entra outro assunto muito interessante) o comportamento atual da maioria das pessoas tende a não ir muito além do sexo. Aí vem todas aquelas questões culturais a respeito do machismo e a tirana sociedade de gênero, enfim.
Beijão!
Sim, concordo integralmente com vc! É justamente isso (e algumas outras coisas) que eu defini aqui pela expressão "empobrecimento do espírito humano". Penso inclusive que, "a transformação das pessoas em mercadorias" é uma decorrência quase inevitável da nossa cultura altamente individualista e compulsivamente consumista.
ExcluirSobre a necessidade de alimentar o ego da mulher, mais uma vez voce tocou no ponto certo: a mulher (e isso vale igualmente para o homem) é um ser invarialmente narcisista; logo, todo o seu narcisismo se alimenta de elementos símbólicos que sustentam o sentimento de amor-próprio. Não existe maior fracasso para a elevação deste ideal imaginário do que ser reduzido a um mero animal fornicador; isso apagaria completamente a sua individualidade simbólica e eliminaria de vez a possibilidade de acesso à transcedência e à imortalidade de sua singularidade. Como diria o psicanalista Otto Rank: "O problema do sexo é muito simples: é que o sexo é do corpo e o corpo da morte". Acho que não preciso falar mais nada...