Não acredito na predominância absoluta nem do destino nem do livre-arbítrio. Eu penso, mais precisamente, que em nossas vidas existe uma tensão insolúvel entre o determinismo do destino e o livre-arbítrio individual.
Talvez parte da confusão observada nos debates sobre este tema, derive da acepção adotada para a palavra destino, pois o mesmo pode se encarado ao menos sob duas perspectivas diferentes.
Uma seria a mais comum, aquela que concebe o destino como uma necessidade básica resultante de uma inequívoca determinação causal. Ou seja, tudo deriva de um projeto prévio, com um sentido único e irrevogável e o que nos restaria então seria somente a resignação diante do inevitável plano criador. Esta representação pode ser banalmente utilizada para eximir-se da responsabilidade pessoal pela vida (mas ao contrário, tb pode exigir uma alta dose de coragem para aceita-la), projetando no cosmos toda a significação da existência.
A outra, (que eu considero também interessante e que não obrigatoriamente exclui a primeira), define o destino simplesmente como a lei superior da contigência e do acidente. Neste caso, o que nos atormenta efetivamente não é impossibilidade de mudanças, mas sim a falta de racionalidade e de uma necessidade básica fundamental que oriente os desatinos do destino e da vida. Isto significa que geralmente damos o nome de destino para tudo aquilo que nos antecede e sucede, mas que não controlamos ou desconhecemos.
Neste sentido, podemos considerar como uma obra do destino (em qualquer uma das duas acepções da palavra) eu ter simplesmente nascido aqui e não na China maoísta (ufa, graças a Deus!! rs). E isso me determina tanto ou mais quanto as escolhas que hoje faço aqui. Eu, por exemplo, se dependesse exclusivamente de meu livre-arbítrio, escolheria viver na Grécia Antiga ou até mesmo na Era Medieval; a desilusão moderna para com a vida me perturba profundamente... Mas aceito a fatalidade inexorável da falta de controle sobre o momento e lugar exato do meu nascimento!
Conviver com a ansiedade diante das vicissitudes do destino é tão díficil quanto conviver com a ansiedade de ter que tomar decisões e efetuar escolhas, afinal estamos o tempo todo diante do abismo da escuridão, da morte, da insignificação da experiência e da culpa pela nossa imperfeição enquanto criatura. Acho que (seguindo a proposta ontológica de Tillich) só nos resta mesmo a coragem para enfrentar ambos estes fantasmas e seguir adiante de acordo com as nossas mais profundas convicções, crenças e apostas sobre o valor superior que uma vida humana pode efetivamente encarnar e realizar.
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