Finalmente, depois de meses de adiamento, eu acumulei a coragem necessária para enfrentar o desafio pessoal de assistir ao filme "Amor", de Michael Haneke. Foi preciso paciência, afinal, mesmo apesar de alguns anos de análise, ainda me considero um daqueles radicais trágicos que concebe o envelhecimento e a morte como uma espécie de "maldição" aparentemente sem qualquer propósito ou sentido minimamente justificável - possivelmente, minha sensibilidade trágica seja de fato uma questão inanalisável... não sei...
De qualquer modo, não me proponho aqui a fazer uma análise do filme; não me sinto nem um pouco à vontade para fazer isso, pois trata-se de um tema muito forte e que me pega do início ao fim...
No entanto, aproveitarei o espaço para compartilhar alguns dos pensamentos que indicam a maneira pela qual eu fui afetado pela estória. Assim, desde o início, a grande questão pela qual este filme me pegava e ainda me pega é: será o amor suficientemente forte para suportar as misérias básicas de uma existência tipicamente humana?
De qualquer modo, não me proponho aqui a fazer uma análise do filme; não me sinto nem um pouco à vontade para fazer isso, pois trata-se de um tema muito forte e que me pega do início ao fim...
No entanto, aproveitarei o espaço para compartilhar alguns dos pensamentos que indicam a maneira pela qual eu fui afetado pela estória. Assim, desde o início, a grande questão pela qual este filme me pegava e ainda me pega é: será o amor suficientemente forte para suportar as misérias básicas de uma existência tipicamente humana?
Segundo a franqueza brutal do existencialismo tragicômico (pessimista) de Woody Allen, tal como retratado no final dos anos 70, em seu magnífico "Annie Hall" (sem dúvida, um de meus filmes prediletos): a vida seria basicamente dividida em duas categorias: horrível e miserável. Horrível seriam todas aquelas manifestações associadas com doenças terminais e crônico-degenerativas, ou com a perda irrevogável dos sentidos e da capacidade motora de deslocamento, em suma: tudo aquilo que assegura uma precoce invalidez total - sendo o mais espantoso e inacreditável que, depois de um ser humano ser acometido por qualquer uma destas vicissitudes fortuitas, que tal indivíduo fosse ainda capaz de continuar vivendo!
Por sua vez, a parte miserável compreenderia todo o resto, ou seja, tudo que não entra na conta do horrível. Logo, sua conclusão um tanto "cínica", não poderia ser muito diferente: quando passar pela vida, se puder, agradeça por ser tão somente um miserável!!! Eu diria sem pesar que, assim como muitos de meus "modelos de autoridade identitária", eu já frequentei por certos (e longos) períodos a "escola" Kierkegaardiana da angústia e do desespero, e é neste sentido que compreendo com as vísceras a suposta veracidade da constatação Alleniana.
Por sua vez, a parte miserável compreenderia todo o resto, ou seja, tudo que não entra na conta do horrível. Logo, sua conclusão um tanto "cínica", não poderia ser muito diferente: quando passar pela vida, se puder, agradeça por ser tão somente um miserável!!! Eu diria sem pesar que, assim como muitos de meus "modelos de autoridade identitária", eu já frequentei por certos (e longos) períodos a "escola" Kierkegaardiana da angústia e do desespero, e é neste sentido que compreendo com as vísceras a suposta veracidade da constatação Alleniana.
Em grande parte, me parece que é essa convicção de Woody Allen (pelo menos de seu personagem no filme) que é testada até o seu limite extremo na dinâmica radical do filme "Amor"; porém, com a introdução justamente de um elemento adicional diferencial, que se manifesta e se expressa através de um forte vinculo amoroso entre um casal de idosos. Retomo então a questão: seria esse amor suficientemente forte para lidar com a iminente desgraça do casal produzida pela desintegração crescente do corpo biológico das personagens - em especial, do acentuado e acelerado declínio das funções autônomas da esposa?
Não sei, mas na forma como é retratada a estória, me parece que ao mesmo tempo sim e não... Após assistir ao filme, apenas uma única coisa ficou relativamente clara: o porquê que a brilhante atuação de Emmanuelle Riva perdeu o óscar de melhor atriz para Jennifer Lawrence. Eu arrisco dois palpites simples e um tanto óbvios: (I) a juventude e sua inestimável beleza física vendem absurdamente melhor e mais facilmente do que os aspectos tristes e degenerativos da perda de autonomia individual decorrentes do envelhecer (ter que se esforçar medonhamente para tomar água de canudinho ultrapassa, para muitos - inclusive para mim - o limite do tolerável em termos de dignidade humana); (II) no mundo contemporâneo, a tragédia também não é tão rentável quanto o melodrama romântico, uma vez que a maior parte da indústria do entretenimento moderno está voltada justamente para negação dos elementos trágicos da vida, assim como também para o esquecimento das verdadeiras obscuridades enigmáticas que assolam a condição humana.
Não sei, mas na forma como é retratada a estória, me parece que ao mesmo tempo sim e não... Após assistir ao filme, apenas uma única coisa ficou relativamente clara: o porquê que a brilhante atuação de Emmanuelle Riva perdeu o óscar de melhor atriz para Jennifer Lawrence. Eu arrisco dois palpites simples e um tanto óbvios: (I) a juventude e sua inestimável beleza física vendem absurdamente melhor e mais facilmente do que os aspectos tristes e degenerativos da perda de autonomia individual decorrentes do envelhecer (ter que se esforçar medonhamente para tomar água de canudinho ultrapassa, para muitos - inclusive para mim - o limite do tolerável em termos de dignidade humana); (II) no mundo contemporâneo, a tragédia também não é tão rentável quanto o melodrama romântico, uma vez que a maior parte da indústria do entretenimento moderno está voltada justamente para negação dos elementos trágicos da vida, assim como também para o esquecimento das verdadeiras obscuridades enigmáticas que assolam a condição humana.
Durante as duas horas do filme, é basicamente com isso que o telespectador é confrontado: com a dureza da velhice; com os limites da incompreensão humana sobre a finitude; e com a ausência/perda gradativa do sentido da vida que é acarretada pela morte das pessoas queridas e que, ao ir embora, levam junto também partes de nosso mundo interno.
No entanto, considero que falar de amor e não falar sobre a mensagem elementar do cristianismo é deixar de falar sobre o essencial do amor. Nas belas palavras de Erich Fromm (que diga-se de passagem não era um propriamente um cristão, e sim um amoroso humanista místico): "o amor é a única resposta sadia e satisfatória para os problemas da existência humana". Essa simples afirmação, já forma por si só, um contraponto justo em relação à caricatural visão da desgraça (referente à perda total da esperança e da fé em um significado metafísico positivo para a existência humana - que diga-se de passagem, é realmente potencialmente aniquiladora) tão cara a muitos contemporâneos. E vale lembrar que o mundo grego (e qualquer outro mundo na época) não conhecia tal categoria de amor: o amor caridoso e incondicional à figura do próximo (enquanto manobra psíquica de combate ao egoísmo tão natural e indissociável da experiência humana) e é por isso que o pagão se escandalizava totalmente diante do cristão - assim como o sujeito moderno se escandaliza até hoje! Ao passo que o mundo moderno, parece que também já se esqueceu ou abandonou quase por completo tal ensinamento. Ele praticamente só reconhece como manifestação de amor a exaltação do amor apaixonado tal como representado pela histeria romântica dos poetas.
De ante-mão, assumo aqui então, sem pudor, que aposto todas as minhas singelas fichas na possibilidade de que a máxima de Fromm esteja correta, e que, portanto: ao final, o amor consiga sim dar conta do recado frente não apenas à questão terrificante da morte - pois é claro que a morte, em determinadas situações, pode muito bem ser enfrentada com enorme dose de dignidade heroica; e o homem grego já sabia muito bem disso -, mas também a essas outras duas grandes questões impostas pelo envelhecimento: (I) o inexorável definhamento de nosso corpo biológico e (II) a degeneração de nossa atividade anímica espiritual.
Mas seria necessário esclarecer então de qual que categoria de amor que se fala. Me parece que apenas o amor compreendido em seu sentido mais amplo, isto é: na conjunção completa do amor ao absoluto em-si-mesmo (que nada mais é do que o amor ao amor ou o amor a Deus), somado ainda ao amor parental aos criadores encarnados, ao amor erótico/sexual dirigido ao parceiro, ao amor constitutivo da personalidade do ser na qualidade de amor a-si-mesmo e finalmente, ao amor fraternal aos imperfeitos e degenerados, porém semelhantes) é capaz de suportar o drama exasperante imposto pelo destino humano; e é por isso que Spinosa (o grande místico neo-estoico do século XVII) defende o amor como o único afeto ativo, pois o amor é ação, ao contrário do medo, do ódio, da inveja, da cobiça e do ciúmes (afetos passivos) que são apenas reações que impelem o homem para longe da expansão de sua potência - isto é, para longe de seu próprio crescimento e desenvolvimento interior .
Na mais simples expressão da filosofia cristã, seria justamente através do relacionamento amoroso com o amor em-si-mesmo (compreendido também em toda a sua humildade enquanto Amor-necessidade de Deus e Amor-doação aos seres humanos tal como expresso na doutrina da Caridade de Paulo), que não haveria mais o que temer, pois seria somente este amor mais elevado que basicamente sustentaria a esperança e a fé de que a eternidade é em si mesma uma possibilidade aberta, e sendo justamente esse amor, a via de acesso para o eterno, pois no sentido ulterior das coisas que transcendem à temporalidade mundana, nas palavras de Kierkegaard, "o amor é linguagem universal do eterno e assim, ele permanece"!
De ante-mão, assumo aqui então, sem pudor, que aposto todas as minhas singelas fichas na possibilidade de que a máxima de Fromm esteja correta, e que, portanto: ao final, o amor consiga sim dar conta do recado frente não apenas à questão terrificante da morte - pois é claro que a morte, em determinadas situações, pode muito bem ser enfrentada com enorme dose de dignidade heroica; e o homem grego já sabia muito bem disso -, mas também a essas outras duas grandes questões impostas pelo envelhecimento: (I) o inexorável definhamento de nosso corpo biológico e (II) a degeneração de nossa atividade anímica espiritual.
Mas seria necessário esclarecer então de qual que categoria de amor que se fala. Me parece que apenas o amor compreendido em seu sentido mais amplo, isto é: na conjunção completa do amor ao absoluto em-si-mesmo (que nada mais é do que o amor ao amor ou o amor a Deus), somado ainda ao amor parental aos criadores encarnados, ao amor erótico/sexual dirigido ao parceiro, ao amor constitutivo da personalidade do ser na qualidade de amor a-si-mesmo e finalmente, ao amor fraternal aos imperfeitos e degenerados, porém semelhantes) é capaz de suportar o drama exasperante imposto pelo destino humano; e é por isso que Spinosa (o grande místico neo-estoico do século XVII) defende o amor como o único afeto ativo, pois o amor é ação, ao contrário do medo, do ódio, da inveja, da cobiça e do ciúmes (afetos passivos) que são apenas reações que impelem o homem para longe da expansão de sua potência - isto é, para longe de seu próprio crescimento e desenvolvimento interior .
Na mais simples expressão da filosofia cristã, seria justamente através do relacionamento amoroso com o amor em-si-mesmo (compreendido também em toda a sua humildade enquanto Amor-necessidade de Deus e Amor-doação aos seres humanos tal como expresso na doutrina da Caridade de Paulo), que não haveria mais o que temer, pois seria somente este amor mais elevado que basicamente sustentaria a esperança e a fé de que a eternidade é em si mesma uma possibilidade aberta, e sendo justamente esse amor, a via de acesso para o eterno, pois no sentido ulterior das coisas que transcendem à temporalidade mundana, nas palavras de Kierkegaard, "o amor é linguagem universal do eterno e assim, ele permanece"!
Expresso aqui alguns fragmentos do pensamento cristão não na qualidade propriamente de um cristão convertido (coisa que eu não sou), mas porque considero que elas são pertinentes e falam muito bem sobre questões que o mundo moderno se constrange em ter que responder - na verdade o cerne do pensamento moderno julga ansiosamente que elas não podem/necessitam ser respondidas.
No entanto, uma lição muito importante que eu acredito ter aprendido com a psicanálise é que tudo aquilo que não é ou não pode ser falado (tal como um trauma) nos determina não apenas em ação, mas ainda nos reduz em termos de possibilidade criadora e expansiva. E, de certo modo, penso que é isso que é dramaticamente demonstrado no final do filme, com o desfecho ensejado pelo marido, que através de seu ato de "eutanásia estoica" (que pode muito bem ser compreendido enquanto um corajoso e nobre ato de amor), é capaz de dar um fim ao crescente sofrimento vivido pelo casal. Porém, na concepção cristã de mundo, tal como eu a entendo, essa atitude dificilmente poderia ser estimulada, assim como tampouco o suicídio pode ser estimulado... pois trata-se de um ato radical de ruptura com a continuidade do devir, que carrega em si a possibilidade ilimitada, infinita e eterna de continuidade do (e através do) amor. Como bem afirmou o teólogo Paul Tillich em seu ensaio ontológico sobre a coragem: "as ansiedades naturais relativas à culpa e a condenação (expressas pelo sentimento de auto-rejeição do ser) são qualitativamente infinitas, e por terem então um peso ilimitado, não podem ser removidas ou eliminadas por um ato finito de auto-negação ôntica" (espiritual). É isso que torna o desespero algo tão desesperador: dele (do desespero) não se pode mais fugir, pois ele é a consequência final da fuga; nem mesmo através da auto-aniquilação seríamos capazes de nos livrar da culpa ontológica sentida por aquilo que não fomos ou não pudemos fazer! Kierkegaard, por sua vez, defendia que se a alma for realmente imortal, não existe existe qualquer possibilidade de um assassinato espiritual, mas apenas a derrocada do espirito na perda de si mesmo em sua luta e confronto mais difícil: o confronto com o nosso mundo interior.
Destacando que na base da filosofia cristã que segue a tradição de São João, Deus é amor, e assim, Ele é entendido enquanto o único e verdadeiro intermediário das relações de amor (naquele sentido amplo) entre os seres humanos. Nesta perspectiva, antes de amar uma pessoa ou qualquer outra coisa, é necessário entrar em uma relação mais profunda com o amor sobre-natural em-si-mesmo, o amor absoluto ou a Caridade - evitando assim, a tentação promovida pela representação moderna do amor puramente humanista ou mesmo romântico, que no limite e mesmo com a melhor das intenções, infelizmente ainda é uma forma camuflada de egoísmo; e não é necessário ser um gênio da psicologia para observar/constatar que frequentemente o(a) apaixonado(a) relaciona-se mais com a imagem sob a qual ele(a) projeta sua expectativa de idealização sobre a figura do outro, e menos com própria a singularidade do outro em sua alteridade radical. Portanto, sem essa relação intermediária (o terceiro do triângulo, que é o Amor), o amor natural e puramente dualista sucumbe na temporalidade, isto é, não resiste a pressão do tempo; não permanece e não ganha jamais a dimensão da eternidade.
No entanto, uma lição muito importante que eu acredito ter aprendido com a psicanálise é que tudo aquilo que não é ou não pode ser falado (tal como um trauma) nos determina não apenas em ação, mas ainda nos reduz em termos de possibilidade criadora e expansiva. E, de certo modo, penso que é isso que é dramaticamente demonstrado no final do filme, com o desfecho ensejado pelo marido, que através de seu ato de "eutanásia estoica" (que pode muito bem ser compreendido enquanto um corajoso e nobre ato de amor), é capaz de dar um fim ao crescente sofrimento vivido pelo casal. Porém, na concepção cristã de mundo, tal como eu a entendo, essa atitude dificilmente poderia ser estimulada, assim como tampouco o suicídio pode ser estimulado... pois trata-se de um ato radical de ruptura com a continuidade do devir, que carrega em si a possibilidade ilimitada, infinita e eterna de continuidade do (e através do) amor. Como bem afirmou o teólogo Paul Tillich em seu ensaio ontológico sobre a coragem: "as ansiedades naturais relativas à culpa e a condenação (expressas pelo sentimento de auto-rejeição do ser) são qualitativamente infinitas, e por terem então um peso ilimitado, não podem ser removidas ou eliminadas por um ato finito de auto-negação ôntica" (espiritual). É isso que torna o desespero algo tão desesperador: dele (do desespero) não se pode mais fugir, pois ele é a consequência final da fuga; nem mesmo através da auto-aniquilação seríamos capazes de nos livrar da culpa ontológica sentida por aquilo que não fomos ou não pudemos fazer! Kierkegaard, por sua vez, defendia que se a alma for realmente imortal, não existe existe qualquer possibilidade de um assassinato espiritual, mas apenas a derrocada do espirito na perda de si mesmo em sua luta e confronto mais difícil: o confronto com o nosso mundo interior.
Destacando que na base da filosofia cristã que segue a tradição de São João, Deus é amor, e assim, Ele é entendido enquanto o único e verdadeiro intermediário das relações de amor (naquele sentido amplo) entre os seres humanos. Nesta perspectiva, antes de amar uma pessoa ou qualquer outra coisa, é necessário entrar em uma relação mais profunda com o amor sobre-natural em-si-mesmo, o amor absoluto ou a Caridade - evitando assim, a tentação promovida pela representação moderna do amor puramente humanista ou mesmo romântico, que no limite e mesmo com a melhor das intenções, infelizmente ainda é uma forma camuflada de egoísmo; e não é necessário ser um gênio da psicologia para observar/constatar que frequentemente o(a) apaixonado(a) relaciona-se mais com a imagem sob a qual ele(a) projeta sua expectativa de idealização sobre a figura do outro, e menos com própria a singularidade do outro em sua alteridade radical. Portanto, sem essa relação intermediária (o terceiro do triângulo, que é o Amor), o amor natural e puramente dualista sucumbe na temporalidade, isto é, não resiste a pressão do tempo; não permanece e não ganha jamais a dimensão da eternidade.
Parece que essa é uma inversão perversa realizada pela modernidade, na qual o Amor é que virou um Deus, e quando isso acontece, nas palavras precisas de C.S. Lewis, "ele se comporta de forma semelhante a um demônio": ou extinguido-se ou revertendo-se em seu oposto: o ódio. Parece que no filme, a solução estoica (estoico no sentido de que: se não existe mais escolha e possibilidade de controle sobre a vida, é possível ainda exercer a escolha e a possibilidade de controle sobre a morte) encontrada fora justamente a auto-aniquilação do casal, tratando-se assim, de uma representação digna de ser exaltada pela poesia moderna, uma vez que, naquele momento de sofrimento incomensurável, o amor entre eles comportava e esgotava todo o sentido possível de suas vidas. Sem ele, não existia mais motivo para permanecer no perecer da dor, do sofrimento, da angústia e da ausência.
E é justamente neste sentido também que as palavras de Santo Agostinho podem ser fielmente compreendidas: a vida jamais será capaz de carregar o seu significado próprio em si mesma, pois a vida é limitada e finita; assim como também o significado ulterior de um livro não pode estar nem em seu início ou em seu meio (nem tampouco em sua breve duração de leitura), mas apenas em seu final: a vida humana também só poderia encontrar o seu sentido/significado último no além, isto é, no pós-morte, no plano da eternidade imutável das essências infinitas - aquelas das quais tanto falava Platão. Quem quiser procurar o sentido/significado transcendente de sua vida na imanência de sua efêmera existência, assim pode fazer o quanto quiser, mas é inevitável que não se encontre nada, pois existe aí uma incongruência lógica; pois do mesmo modo que é uma incongruência lógica querer buscar o sentido de uma estória antes do final da estória, é também uma incongruência lógica querer desvendar o sentido da vida antes do final da vida! Parece realmente que Santo Agostinho já havia se antecipado a este problema no século V e de um modo bem inteligível, já havia também nos alertado sobre o perigo da perda/ausência de sentido para a vida quando se busca o seu significado na duração e na transitoriedade.
Em resumo, apesar de sua aspereza do início ao fim, o filme é um espetáculo! É absolutamente notável a sua capacidade de retratar com maestria e genialidade, as condições gerais de um drama universal que é definitivamente contornado e delimitado pelas circunstâncias culturais contemporâneas.
E é justamente neste sentido também que as palavras de Santo Agostinho podem ser fielmente compreendidas: a vida jamais será capaz de carregar o seu significado próprio em si mesma, pois a vida é limitada e finita; assim como também o significado ulterior de um livro não pode estar nem em seu início ou em seu meio (nem tampouco em sua breve duração de leitura), mas apenas em seu final: a vida humana também só poderia encontrar o seu sentido/significado último no além, isto é, no pós-morte, no plano da eternidade imutável das essências infinitas - aquelas das quais tanto falava Platão. Quem quiser procurar o sentido/significado transcendente de sua vida na imanência de sua efêmera existência, assim pode fazer o quanto quiser, mas é inevitável que não se encontre nada, pois existe aí uma incongruência lógica; pois do mesmo modo que é uma incongruência lógica querer buscar o sentido de uma estória antes do final da estória, é também uma incongruência lógica querer desvendar o sentido da vida antes do final da vida! Parece realmente que Santo Agostinho já havia se antecipado a este problema no século V e de um modo bem inteligível, já havia também nos alertado sobre o perigo da perda/ausência de sentido para a vida quando se busca o seu significado na duração e na transitoriedade.
Em resumo, apesar de sua aspereza do início ao fim, o filme é um espetáculo! É absolutamente notável a sua capacidade de retratar com maestria e genialidade, as condições gerais de um drama universal que é definitivamente contornado e delimitado pelas circunstâncias culturais contemporâneas.
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