segunda-feira, 1 de julho de 2013

Hobbes X Rousseau

 É engraçado: quando eu tinha 15 anos simpatizava com Rousseau e aos 17, quando conheci Hobbes, o achava um chato de galocha... Hoje, com 30, as coisas praticamente se inverteram (e estudar Freud foi decisivo com relação a este meu reposicionamento e mudança): apenas agora reconheço e entendo com mais profundidade o "pessimismo" moral de Hobbes, ao passo que estou cada vez mais inclinado a considerar o pensamento de Rousseau como uma expressão clássica do "infantilismo neurótico" no universo da política (atualmente, ler Rousseau, é para mim uma experiência extremamente constrangedora!). Para ser sintético, penso que o maior erro de Rousseau parte de sua concepção de uma humanidade moralmente neutra e, portanto, ele se apressa em localizar o mal, a culpa e o erro sempre no universo externo (no sistema, na sociedade etc); assim, resumidamente, eu diria que Rousseau (tanto quanto Marx e seus descendentes diretos) se defende do mal no mundo projetando esse mal para a o lado de fora; no sentido contrário, o pensamento de Hobbes antes de mais nada olha para si mesmo, para o interior do ser humano, e não gosta nada do que vê! (mas é claro, não é agradável olhar para o abismo de nosso universo interior e reconhecer que lá também existem o caos, a confusão, a desordem, a culpa, o erro e a maldade) É neste sentido que Hobbes é uma espécie de "pessimista" moral. Mas o fato é que deslocar o foco de um problema interno para fora não pode ser considerada uma manobra psíquica muito inteligente, assim como um sistema político qualquer que seja não deve ser confundido com um desinfetante moral. Hobbes ainda acredita que a sociedade como um todo e o convívio humano são libertadores dessa opressora natureza destrutiva que alimenta boa parte do movimento do homem no mundo (e nisso eu tb concordo com ele). No entanto, apesar de a visão hobbesiana me cativar extremamente mais do que a rousseauniana, ainda considero essas duas posições como essencialmente "esquizo-paranóides" (Melanie Klein), pois elas cindem o universo em dois aspectos únicos e indissociáveis. Na primeira, basicamente o homem é bom e a sociedade é má; na segunda, o homem é que é ruim e a sociedade é que é boa. Acho que nem preciso me estender muito no sentido de esclarecer porque considero que Hobbes tinha um posicionamento político mais maduro e menos ingênuo do que o de Rousseau (apesar de ter escrito 1 século antes)... mas parece que este amadurecimento psíquico se apresenta de uma forma extremamente clara e lúcida tão somente na perspectiva e visão política de Tocqueville. Aí sim, poderíamos pensar com Klein, na conquista de uma integração (posição depressiva) entre a noção de bem e mal no plano do pensamento político, pois com ele, torna-se superficial demais dividir o bem e o mal localizando-os ora na pessoa ora no sistema; é claro que no sofisticado pensamento de Tocqueville, o bem e o mal são constituintes elementares tanto da natureza humana quanto da organização social. E neste sentido, a responsabilidade pessoal de cada um está sendo então convocada a ser pensada simultaneamente em termos individuais e coletivos. Esse é o motivo pelo qual o considero até hoje um dos maiores gênios do pensamento político no ocidente!

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