segunda-feira, 27 de julho de 2015

O papa Francisco e a reticência dos conservadores ao individualismo liberal

O ponto aqui é que o "efeito desagregador" paradoxalmente carrega em si mesmo também o efeito libertador.
Está correto afirmar que a economia de mercado deslocou o indivíduo para fora das redes de proteção e dependência que organizavam de forma um tanto coesa as comunidades tradicionais. E é exatamente por isso que é verdade também que o conservadorismo político está muito mais próximo de uma desconfiança do liberalismo de mercado (liberismo) do que de "um abraço apertado". E nisso, neste primado do comunistarismo sobre o individualismo liberal, de fato os conservadores tendem a se aproximar mais dos socialistas do que até mesmo os liberais de esquerda.
No entanto, o fato histórico relevante que marcou o século XX e que permitiu ainda o casamento tardio entre conservadorismo e liberistas de mercado foi a constatação empírica (já dogmática há muito entre os liberais) de que "a liberdade política está diretamente associada com a liberdade econômica", pois a segunda é condição para a primeira (esta última sendo uma máxima universal).
Contudo, afirmar que o motivo do lucro corrompe a moral é no mínimo controverso. Estou mais disposto a crer que a corrupção moral vem de cima, da hierarquia de valores e dos ideais pessoais (ou falta deles) e, portanto, decorrente de convicções espirituais e filosóficas... e não de baixo, isto é, da prática econômica. Até porque, a sobrevivência do capitalismo aos mais pesados ataques totalitários decorre até hoje do fato de que ele é o melhor sistema em termos de capacidade (quase enigmática) de transformação da ganância comum em altruísmo - mesmo sendo incapaz de promover a mais equitativa redistribuição direta dos bens sociais; nenhum outro sistema de produção, entretanto, foi capaz de canalizar as paixões egoístas e o narcisismo do homem de modo tão eficiente ou ainda de redistribuir bens sem restringir drasticamente as liberdades políticas e civis.
Neste sentindo, é o discurso atual do papa Francisco e dos comunistas sobre a realidade econômica que está pelo menos uns dois séculos atrasado. Convidamos eles para o café da manhã e eles chegaram depois do jantar!

http://alias.estadao.com.br/noticias/geral,o-lucro-e-a-fe,1727567

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