quarta-feira, 2 de julho de 2014

É oito ou oitenta!

Algumas pessoas dizem que não devemos falar sobre política... outras acham que devemos falar somente sobre política... alguns só querem assistir futebol, outros jamais entendem o futebol... alguns não consideram estimulante pensar sobre filosofia , teologia ou religião, sociologia, antropologia ou psicologia e psicanálise... outros se entusiasmam exclusivamente pelas criações artísticas... mas se todos aderirmos radicalmente a qualquer um desses pressupostos (seduz-me dizer restritivos!), correremos um sério risco: o de incorrer no silêncio sepulcral de uma prisão que não comunica mais nada. Pois falar, pensar ou calar sobre a política (gerenciamento das questões públicas que compõe o espaço comum) equivale a pensar, falar ou calar sobre futebol  (atividade que consiste em um conjunto de regras em torno de uma bola) filosofia (que comporta a premissa ou a negação de uma ascese em direção à verdade através de operações do pensamento), teologia ou religião (que reporta sempre a origem primordial que fundamenta e orienta todas as coisas), sociologia (resultante da observação do comportamento individual nas dinâmicas coletivas), antropologia (que oferece uma noção sobre o que é característico e universal no humano), psicologia (que remete a uma percepção do desenvolvimento e organização afetiva e sexual singular entre esses humanos) ou psicanálise (acrescentando à última definição a hipótese de algumas determinações e elementos inconscientes) e artes (um conjunto ilimitado e riquíssimo de retratos externos que moldam um universo interno em erupção). Todas essas coisas estão visceralmente impregnadas umas nas outras e versam umas sobre as outras, de tal maneira que, se abandonarmos uma, abandonaremos todas as outras... assim, ou falamos abertamente e tentamos entender um pouco sobre todas elas, que em conjunto formam o cerne da experiência humana - essa amálgama insolúvel de mistérios que compõe a vida - ou nos calaremos e não falaremos mais sobre nada! É claro que no momento que se fala, se fala em separado de cada uma delas; no entanto, isso de forma alguma significa que as outras não estão todas onipresentes ali... nesse ponto é oito ou oitenta: ou se aceita falar sobre como se enxerga a totalidade da vida ou nos calemos cegos sobre ela.


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