Se for, eu não sigo por esse caminho. Até porque, precisamos ainda pensar em alguma justificação maior do que agir em nome de deus, como um soldado de um exército divino na luta entre o bem e o mal? Acho que já está aí dada e bem clara a justificativa, que a meu ver poderia ser tranquilamente colocada na conta das neuroses. (Becker definiria como mais uma forma de "heroísmo fracassado").
A própria sociologia Freudiana nos dá uma base firme para pensar sobre isso: a entrada do indivíduo na cultura se dá por uma série de interdições ao impulso, gerando culpa no indivíduo. Cultura, entre outras coisas, é um freio para a liberdade desenfreada e portanto (auto)destrutiva de uma série infindável de impulsos interiores ávidos de prazer; é um freio "de culpa".Toda a cultura pretende assim canalizar a força pulsional do sujeito para um propósito comunal e é desse modo que ela limita o caos interno e externo direcionando os esforços do sujeito e tornando o mundo interior de alguma forma útil ao exterior.
A culpa é a justificativa de que você fala e é sempre ela que liga os homens em empreendimentos culturais comuns. Toda a cultura opera então no interior dos sujeitos através de mecanismos sutis de manipulação da culpa, ou seja por uma dialética entre culpabilização e ritos de expiação da culpa. Mas aqui estamos no universo da neurose. A psicose seria o extremo da individualização da culpa, o que dispensaria qualquer justificativa. É nesse sentido que penso que ninguém pode ser mais "singular" do que um psicótico, que vive o todo o tempo o drama de poder "falar" apenas em nome de si mesmo, enquanto um isolado.
Retomando o ponto lá atrás, os terroristas agem em nome de uma cultura (em nome de um pai) e estão unidos em uma comunidade com um propósito comum muito claro: criar um califado mundial liderado pelo Islã (uma espécie de teocracia absolutista radicalmente intolerante). Enquanto aqui, a muito custo, a igreja católica diluiu seus poderes políticos pela assimilação de um Estado Laico (com poderes divididos e tal) perdendo assim seu caráter catequista militar e tornando teologia e política coisas relativamente distintas, lá, paradoxalmente se deu exatamente o contrário; o califado muçulmano hoje é simplesmente um estado totalitário e bárbaro que não reconhece qualquer distinção entre teologia e política.
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