quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Aristóteles e a Metafísica

      Gostaria de registrar aqui um fato notável: quando Aristóteles (nada mais nada menos que o pai e fundador da Lógica no pensamento ocidental) concebeu seus escritos sobre a metafísica, ele dizia, traduzindo livremente, simplesmente o seguinte: a nossa razão (intelecto) apenas nos permite compreender os componentes simples à respeito da realidade de nossa experiência no universo. Ou seja, Aristóteles entendia como entidade simples, nada muito além da ideia abstrata de um motor primário; a causa sui de todas coisas criadas pela dimensão do eterno e portanto, do infinito. Em linguagem cristã: diríamos Deus. 
      Por outro lado, todos os elementos materias que nos circundam e desse modo compõe o todo do universo, isto é, aquilo que costumamos chamar de natureza, são tidas por Aristóteles como entidades complexas; estas últimas, por sua vez, são muito mais complicadas e, portanto, não poderiam por nós jamais serem perfeitamente desvendadas e conhecidas. 
     O fato notável (macabro) que tenta se explicitar aqui, é que a Modernidade inverteu quase que ao seu exato oposto, a tão laboriosa representação aristotélica do mundo. Ao contrário de Aristóteles, que afirmava então que Deus era a única e derradeira certeza acessível ao nosso intelecto (que se alcançava apenas através da correta utilização de nossa capacidade de conhecimento racional), o "intelectual lógico" moderno (ou seja, o vulgar profissional do pensamento que se crê um cientista) afirma com a mesma convicção que Deus é a única coisa que de fato não podemos conhecer (isso quando ele não conta com aquele obstinado dom premonitório que assegura que "Ele" nem sequer existe). Pior ainda: o cientista moderno acredita ainda que com o progresso e o emprego das técnicas corretas, as ciências poderão - ou já podem - desmembrar e conhecer plenamente o mundo da phisys, isto é, a realidade mundana dos elementos materias que compõem a natureza. 
      Penso que agora fica mais claro porque a modernidade elevou a loucura ao status da normalidade - ou foi justamente o contrário? 
      Me parece que é por isso também que hoje em dia, o lunático, com muita habilidade e perspicácia, faz tranquilamente o papel de um homem "são"; enquanto ao homem autenticamente "são" (Freud diria mais ou nenos normal; por mais inimaginável que nos pareça hoje esta idealização), só resta representar o papel de um "maluco de pedra"! 
Será que este é o maldito significado velado contido no livro A humilhação de Philip Roth? Será que finalmente entendi alguma coisa sobre a história do miserável Axler?              

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